Ortopedia Pediátrica
É a área da Ortopedia que trata do diagnóstico, prevenção e tratamento, clínico e cirúrgico, dos problemas que envolvem os ossos, músculos e articulações do recém-nascido até o final do crescimento.
Os problemas ortopédicos da criança e do adolescente eram, até pouco tempo, tratados de maneira empírica e emocional, sem nenhuma base científica. A angústia dos pais, aliada ao desconhecimento do ortopedista e do pediatra acerca dos problemas ortopédicos, levava quase sempre uma criança normal a ser “tratada” como se fosse doente, ou adulto.
Cerca de 20% da prática diária da pediatria está relacionada com problemas musculoesqueléticos, o que é bastante significativo. A maioria das deformidades não exige tratamento agressivo. No entanto, são vistas como “grandes defeitos” pelos pais, com grande “receio” ou insegurança pelo pediatra e, muitas vezes “tratadas” desnecessária ou erradamente pelo ortopedista de adultos.
O desenvolvimento normal de uma criança, sob o ponto de vista ortopédico, desde o nascimento até o final do crescimento, já é suficientemente conhecido e cientificamente comprovado.
Sendo assim, não podemos mais admitir que uma criança normal seja desnecessariamente “tratada” com aparelhos, botas, gessos e até cirurgias. Da mesma forma, é inadmissível deixar evoluir uma patologia sem diagnóstico correto, precoce, e tratamento adequado. Os problemas clínicos, ortopédicos e psicológicos advindos dessas práticas são conhecidos e difíceis de reverter. O diagnóstico preciso e precoce é sempre essencial.
As afecções ortopédicas e traumatológicas da criança e do adolescente, por sua freqüência cada vez maior, e características especiais diferentes das do adulto, exigem cada vez mais uma dedicação exclusiva do especialista em ortopedia infantil, assim como, e muitas vezes, do trabalho em equipe multidisciplinar envolvendo outros profissionais da área infantil. Obrigam o Ortopedista Pediátrico a um conhecimento especializado, e experiência, quanto a biologia, fisiologia, patologia do desenvolvimento e aspectos psicológicos da criança e do adolescente.
Muitos dos diagnósticos que se faziam antigamente e que na época pareciam ser precoces, hoje em dia podem ser considerados tardios, com graves conseqüências para o desenvolvimento da criança. O diagnóstico pré-natal e o tratamento intra-uterino de algumas doenças são uma realidade, assim como a prevenção de problemas congênitos. A descoberta e o estudo do genoma humano, as técnicas de modificação e manipulação genética, o estudo e aplicação de células tronco, da cultura e transplante de tecidos, nos fazem prever o descobrimento das causas de diversas patologias, assim como sua prevenção e tratamento, independentemente das discussões bioéticas.
A primeira definição e o nome “Ortopedia” foram dados por Nicholas Andry (1741) como sendo: “L’Orthopédie, ou L’Art de prevenir et de corriger, dans les enfants, les deformités du corps et des extremités”, “A Ortopedia, ou a Arte de prevenir e corrigir, nas crianças, as deformidades do corpo e das extremidades”. Ele combinou duas palavras gregas, orthos (reto) e paidios (criança), para formar a palavra Ortopedia, que se refere, originalmente, portanto à criança.
Quais são as síndromes?
Muitos dos problemas ortopédicos das crianças e adolescentes ocorrem isoladamente, como defeitos únicos em uma criança normal. Entretanto, no caso da criança sindrômica, o diagnóstico do tipo de síndrome é, por vezes, muito difícil, assim como seu tratamento.
No caso das síndromes, ocorrem defeitos múltiplos, de causa congênita ou teratológica. Em alguns, os defeitos não são aparentes ao nascimento, mas durante o desenvolvimento do bebê e da criança; em outros, inclusive, o diagnóstico não consegue ser determinado. O Pé torto, por exemplo, é claramente visível e facilmente diagnosticado pela deformidade, podendo ocorrer isoladamente, ou estar associado a várias síndromes:
- Mielodisplasia;
- Amioplasia;
- Artrogripose;
- Distrofias;
- Síndrome de Larsen;
- Trissomias;
- Displasia Camptomelica;
- Síndrome de Regressão Caudal;
- Síndrome de Freeman-Sheldon;
- E outras.
Assim como o pé torto, podemos suspeitar de outras síndromes por algumas características quase patognomônicas, entretanto essas características poderão estar pouco definidas ou até mescladas, dificultando um diagnóstico clínico e até genético. Tanto o diagnóstico como o tratamento, dos problemas e deformidades ortopédicas que acompanham uma síndrome, são de difícil resolução, exigindo acompanhamento multidisciplinar com conhecimento e experiência.